sábado, outubro 27, 2007

Somos pessoas apenas por sermos pessoas

Quando começava a perder a esperança de que haveria alguém que pensasse que o mundo seria um lugar bem melhor se houvesse menos hipocrisia, eis que encontrei «uma luz ao fundo do túnel»!
Fui desencantá-lo no lugar onde o zé-povinho diz que se formam os hipócritas e mentirosos: a Faculdade de Direito (uma pequena salvaguarda: não que eu acredite que assim seja, mas enfim...). Eduardo Vera-Cruz é o seu nome; para além de outras funções, é o regente da cadeira de Direito Romano.
Cedo fiquei a gostar deste professor pelo seu diálogo simples e pela empatia que cria com os alunos. Mas a minha admiração cresceu, quando nos mostrou aquilo que era para ele o Direito.
«É fundamental ter a capacidade de dizer não às injustiças». Naquele momento, qualquer coisa dentro de mim se inflamou. Aquele professor acredita que é necessário parar com as desigualdades, pois a vida, como hoje a concebemos, não passa de um mero conviver com as injustiças. Sim, aquele professor catedrático, presidente do Conselho Directivo, personalidade influente no meio jurídico. Sim, também aquele homem acreditava nisso - e não somente uma simples caloira como eu!
Segundo as suas palavras (desculpe professor por ter tomado notícia do que disse...), o curso de Direito dá potencialidades para tudo; nós depois é que escolhemos o caminho a seguir. E isto não se aplica somente a um curso universitário, mas a toda a nossa vida: são postas à nossa disposição os instrumentos, cada um de nós em seguida opta sobre o que quer fazer com eles.
O bem e o mal somos nós que, na nossa liberdade, o praticamos, não é algo inerente nas coisas.
Nunca antes tinha feito referência tão explícita a uma pessoa no meu blog, mas alguém que diga «nós somos pessoas com dignidade e direitos, apenas por existirmos» de certeza que merece tal referência...

sábado, outubro 20, 2007

Raios te partam Darwin!

É importante começar por frisar que não tenho nada contra o grande naturalista que foi Charles Darwin, nem contra a sua mais celebre obra «A Origem das Espécies pela Selecção Natural». Pode-se dizer que é a interpretação que as pessoas fazem de selecção natural que me causa formigueiro.

Sobrevivência do mais forte!

Ora aqui está o cerne da questão! Generalizou-se, na nossa sociedade, que para se sobreviver temos de ser mais fortes que o nosso parceiro. No entanto, este ser "mais forte" vem conotado com o célebre passar por cima de quem se atravessar no nosso caminho sem olhar a meios (nem a fins...).

A lei da selva, vulgo lei da sociedade, manda que para sobreviver sejamos hipócritas, que chutemos para canto os sentimentos dos outros e que coloquemos o nosso proveito em cima de um pedestal luminoso, bem polido. «Magoei o não-sei-quantos? Problema dele!», «Achas que fui sacaninha? É a vidinha, meu amigo!».

Não pensem que estou aqui a defender que sejamos uns totós, que passemos a actuar tendo apenas por objectivo os interesses alheios. Não! Não sou ingénua a esse ponto. Mas haverá mesmo necessidade de, para vingar na vida, sermos uns verdadeiros canalhas?

Não seria possível encontrar um meio termo entre o nosso próprio proveito e o bem-estar do outro? Uma pitada mais de sensibilidade: seria pedir muito?
Por vezes, penso que se Darwin não tivesse escrito que os mais fortes é que sobrevivem, não teríamos chegado a este ponto.


terça-feira, setembro 18, 2007

Seria dos meus olhos?

A vila era a mesma de tantos Verões; a rua não havia mudado; a hora do dia era igual a tantas outras.
Eu reconhecia a rua: sabia perfeitamente onde me encontrava. Já tinha feito aquile caminho tantas vezes, tanto num sentido como no outro. À primeira vista, tudo permanecia na ordem imutável de há vários anos: a casa azul, seguida da amarela e depois aquela pequenina das janelas brancas.
Mas, naquele dia, havia algo de diferente. As casas e as fachadas antigas, que tantas vezes me haviam acompanhado nos passeios até à praia, despertavam a minha atenção. Parecia que nesse momento os meus olhos descobriam novos recantos, pormenores que até então me tinham passado despercebidos.
Sentia que as próprias casas se abriam para mim, mostrando os seus pequenos segredos. Era como se cada uma delas me dissesse: «Repara como a cor das nossas paredes se encaixa perfeitamente na arquitectura da casa. Olha para esta açoteia que se abre para um pedaço de paraíso escondido». Ao demorar os meus olhos pela rua e contemplá-la no seu todo, senti que emanava uma beleza nunca antes vista.
E pensar que toda aquela magia tinha estado sempre ali, mesmo à minha frente.

terça-feira, agosto 14, 2007

A tristeza da sala de espera

Numa sala de espera de um centro de saúde qualquer, a felicidade parece ter fugido pela porta de entrada lá para fora onde o sol brilha.
Aqui dentro é sempre Outono: velhotes passeiam as suas dores apoiados na bengala, mães preocupadas roem as unhas pensando no dia de trabalho que estão a perder, crianças impacientam-se  nos bancos... todos suspiram «quem me dera não estar aqui...»
Nos filmes, as salas de espera são sempre bonitas, alvas, cheias de luz, transpirando tranquilidade.
Aqui não. Aqui há o branco lascado das paredes, o castanho desbotado dos rodapés, o verde acinzetado do chão; as janelas estão fechadas (para não deixar entrar o sol ou para não deixar sair a tristeza?)
Podiamos acalentar a esperança de que o médico lhes tirasse as dores, que as suas nuvens cinzentas saissem daqui tal qual o céu numa fresca manhã de Verão. Mas saem daqui tal qual entraram.
Porquê?
Talvez não precisem do médico de família, mas sim de um médico da alma...

Os terceiros a contar do Sol

Hoje, enquanto tomava o pequeno-almoço, ouvi nas noticias um manifestante contra o alargamento do aeroporto de Heathrow dizer:
«Numa época de crise ambiental, é impensável...»
Estas palavras fizeram clic na minha cabeça. A verdade nua e crua é mesmo esta: o ambiente nunca esteve tão desregulado como agora. A saúde do planeta está por um fio e, em vez de invertermos este rumo, ainda ajudamos mais ao problema. Temos senadores norte-americanos a defender que caso a temperatura do planeta suba, a solução é desabotoar a camisa; temos governos britânicos a quererem aumentar 21 aeroportos (quando existem, certamente, outras questões mais significativas a requerer atenção).
Entristece pensar que as nossas vidas são governadas pelo lucro, pelo afã de gerar mais e mais «notinhas verdes».
Deixámo-nos acomodar ao prazer dos banhos de imersão, à facilidade de deitar o lixo todo no mesmo contentor, ao milagre da electricidade nas nossas casas. Tudo coisas boas, sem dúvida, mas também prejudiciais quando usadas irresponsavelmente. 
Não digo para nos tornarmos radicais - protestar contra a globalização, ingressar a Greenpeace, amarrarmo-nos a uma árvore... Não, não é preciso tanta «loucura»!
Pequenos gestos como desligar a água enquanto nos ensaboamos, apagar as luzes quando saimos de uma divisão da casa, separar o lixo para a reciclagem (agora até as Camâras Municipais oferecem ecopontos!).
São acções como estas - inócuas, indolores e, no fim de contas, recompensantes - que melhoram o ar que nos envolve.
Não acredito que haja alguém que goste de assistir à lenta deterioração do espaço onde mora.
Uma vez que impera o lema do lutar pelo benefício próprio sem olhar a quem pisamos pelo caminho (não que eu concorde com este modo de vida, mas a sua discussão fica para outro post), então VÁ! Lute, esgravate, faça das tripas coração para tornar o lugar onde vive num sítio melhor!

quinta-feira, julho 19, 2007

Meu, teu, seu, nosso, vosso, deles

Este ano, no exame nacional de português pedia-se aos alunos que escrevessem um texto de reflexão acerca da sobrevalorização do espaço privado em detrimento do espaço público. Hoje, enquanto ia no comboio, voltei a lembrar desse tema...
O ser humano, a partir do momento em que assume algo como seu, que só a si diz respeito (privado), desenvolve a capacidade de proteger, cuidar e, até, mimar determinados objectos. Somos capazes de tratar como sendo a maior preciosidade do mundo o mais simples berloque. Porém, naquilo que diz respeito ao foro público (mas não será este também nosso?), a história já é outra!
Parece que esquecemos que público quer dizer comum, de todos, e por conseguinte nosso também. Egocentricamente, desprezamos o que é de todos, numa atitude de sobranceria. «Eu não tenho nada a ver com isto! Os outros que se preocupem, que cuidem disto.»
Quando era criança e não me estava a comportar devidamente na escola ou assim, os adultos faziam-me a seguinte pergunta: «Também fazes isso em tua casa?». E eu ficava a pensar sobre o assunto... Este foi um "aviso subliminar" que me ensinou a ter respeito por aquilo que é de todos e a estimá-lo.
Por diversas vezes, decerto que já fomos pela rua fora e vimos alguém a deitar lixo para o chão. Sempre que vejo tal situação me pergunto acaso essa pessoa estivesse em casa, se o deitaria para o chão ou iria andar os míseros passos e deitá-lo no caixote do lixo?
Admito que não vou munir-me de balde e esfregona e meter mãos à obra para limpar as ruas, não vou fazer isso, nem espero que a partir de agora todas as pessoas saiam à rua para o fazer. Só gostaria que reflectissem sobre o que é ser privado e público... Alargar horizontes e passar o zelo com que cuidamos aquilo que temos dentro das nossas quatro paredes para a casa chamada planeta Terra.
Seria pedir muito que evitassem estragar os espaços verdes das nossas cidades, vandalizar os transportes públicos, os edifícios...
Se me derem uma boa razão para o facto de sermos desleixados com o cuidado dos espaços públicos, eu prometo que me calo... até lá peço desculpa aos demais, mas METAM A MÃO NA CONSCIÊNCIA E NÃO SEJAM EGOISTAS!

terça-feira, julho 10, 2007

Let the sun shine, the sun shine in...

Definitivamente este post tem de estar aqui!
Hoje, vi o filme "O Amor não tira férias" - um título que realmente faz sentido. O que me deixou tão bem-disposta não foi a história de romance que envolve o argumento, mas sim a mensagem subliminar - talvez somente na minha imaginação - do quão a vida pode ser divertida, basta querermos.
Mostrou-me uma perspectiva diferente: para se estar feliz não implica exclusivamente estar apaixonado por uma pessoa do sexo oposto. Talvez mais do que isso a felicidade esteja em amar, tudo, todos e todas as coisas. Achar a beleza escondida nas coisas que nos rodeiam, saborear cada momento como se fosse mágico...
Actualmente, estou de férias: o que pode levar muito boa gente a pensar «Pois, se eu estivesse de férias também tinha essa boa disposição!»
Alto e pára o baile!!!
Já estão a começar o dia com a mentalidade errada. De férias ou não, experimentem inspirar o cheiro a Verão que paira no ar. Deixem-se contagiar pelas partículas de felicidade que pairam por aí. Em vez de passarem a viagem a caminho do emprego a resmungar com o tráfego, com o malvado do patrão, com a cambada de problemas que vos esperam em cima da secretária da empresa, experimentem apreciar os primeiros raios de sol a despontarem na manhã, a brisa matinal já quente enquanto não chega o calor do meio-dia...
Mas não existe somente beleza natural de manhã, podemos encontrá-la a qualquer hora do dia. Cada momento tem o seu quê de especial, o que nós seres humanos precisamos é de estar dispostos a encontrar esse tesouro...
E que tal aproveitar esta dica? Está um dia tão bonito...

segunda-feira, julho 09, 2007

Não à leveza dos livros!

Ontem, vinha no carro a ouvir a rádio Comercial e a sua rúbrica «O meu blog dava um programa de rádio». Quando calha, oiço o programa e divirto-me imenso com a genialidade dos blogs. Mas, ontem, o «consultório da Maria» levou-me mais longe...
Nos dias de hoje, talvez altamente estimulado pelos blogs, descobrimos novos escritores a uma velocidade incrível (parecem cogumelos!...). Muitos jovens tentam lançar-se na aventura de escrever um livro e tentam a sua sorte junto de uma editora. Não vejo mal absolutamente nenhum nisto, muito pelo contrário. Aplaudo a sua coragem! A literatura precisa de novas brisas, de inovação...
A questão é que ao mesmo tempo que os blogs se multiplicavam, os escritores anónimos lançados para ribalta de uma prateleira de livraria também. Uma coisa é ter um blog, outra é publicar um livro! Espalhou-se pelo senso comum que qualquer um detém aquele talento (leia-se, dom) de escrever um livro.
É isto que me preocupa: permitimos que as prateleiras das livrarias se enchessem de obras, cuja qualidade deixa, as mais das vezes, muito a desejar. Livros sem pés, nem cabeça, de uma «leveza» estupidificante...
Mandámos para os armazéns os marcos da literatura; ao mesmo tempo que falhamos na exigência de trazer a lume as grandes esperanças da escrita moderna.
A meu ver, torna-se imperioso que sejamos rigorosos para não deixar chegar ao mercado maus livros, mas somente aqueles que valem realmente a pena. Só assim nos tornaremos melhores e mais cultos.
O «lampejo de génio que todos os romancistas desejam mas poucos conseguem»...

quinta-feira, junho 21, 2007

Já disse que não era pelo dinheiro!

De certo que já por diversas vezes na vossa vida se deparam com os chamados «sapos» que todos temos de engolir. Umas vezes porque não queremos causar ondas, outras porque não queremos estar a comprar uma batalha, outras até porque é melhor estarmos calados senão quem fica prejudicado somos nós.
Mas se passamos a vida a engolir «sapos», mesmo aqueles que não deviamos, chega a uma determinada altura em que pura e simplesmente nos passamos! Foi exactamente isso que me aconteceu:
Não gosto muito de começar batalhas e por diversas vezes fui engolindo coisas, que o único efeito que tiveram foi o de me deixar ainda mais frustrada comigo própria por não ter conseguído fazer frente. Mas acontece que chegou o dia em que o tigre adormecido acordou...
A questão envolvia dinheiro que me estavam a dever. Não que me fizesse propriamente falta, mas como eu já conhecia a «peça» em questão, fui pacientemente lhe lembrando da «dívida»... À primeira cara de má fingi não ligar; à segunda atitude de ofendida, quis acreditar de que estava a ter um dia mau e que ela me iria pagar em breve. O tempo foi passando e a dita pessoa chegou ao cúmulo de não me dirigir palavra, talvez com medo de que lhe fosse pedir o dinheiro! Aí, passei-me! Já não estava disposta a ser mais benevolente!
Podem estar vocês a pensar «tanto escândalo por uma ninharia?», mas NÃO ERA PELO DINHEIRO. Era uma questão de princípios!!!
Passar por mim e fingir que não me comece, ser mal-educada, fazer-me pôr em causa a minha própria personalidade, mas quando lhe dá jeito saber vir fazer perguntas e pedir ajuda!?!?
Desculpem, mas aí a rolha saltou! Se fosse necessário, naquele dia, haveria alguém que iria para casa com um livro esborrachado na cara (e não seria eu!).
Eu juro-vos que não percebo que mundo é este em que vivemos...
Que raio de pessoas somos nós, se os nossos valores máximos são a sacanice e a hipocrisia? Pomos no dedestral aqueles que sabem chegar mais à frente nem que para isso tenham de «abater» uns quantos pelo caminho. Não sabemos o que é a honestidade, humildade,... Honra?! Que é isso? Não consta no meu dicionário.
Expliquem-me, porque ou ainda não vi o fundo da questão ou então não pertenço a este mundo...

quarta-feira, maio 02, 2007

Quero viver noutra época!

A afirmação pode parecer estranha, mas há uns dias atrás, enquanto estudava História, não houve desejo maior do que este...
Já por várias vezes pensei o bom que seria ser possível realizar viagens temporais e reviver uma época anterior à nossa. Já imaginaram? Ser-nos dada a possibilidade de escolher o momento da História do qual queríamos fazer parte?
Mas voltando à questão principal: naquela altura fui arrebatada por uma forte vontade de desaparecer do Portugal de 2007 e "mudar-me" de malas e bagagens para 1974 (o ano da revolução do 25 de Abril), ou para 1755 (época do Marquês de Pombal), para os Descobrimentos, para a Revolução Francesa,... sei lá tantos sítios e épocas em que eu aceitaria de bom grado viver! Tudo menos o agora!
Podem acusar-me de viver no passado, porém não é isso que se passa: simplesmente me sinto desiludida com o presente. E quando passo em revisão tantos momentos gloriosos, lindos, em que as pessoas lutavam pelos seus ideais, usavam a razão em busca de algo melhor, debatiam-se para acabar com as injustiças, sabiam unir-se em nome de uma causa, fico com uma vontade enorme de me mudar!
Desculpem-me, mas acho que nos afundámos! Virámos as costas uns aos outros, só nos interessa é vermos os nossos desejos realizados e se para isso tivermos de "abater" quem se atravesse no nosso caminho, "cá vai disto"... Tornámos-nos em seres (ainda humanos?) que tiram prazer de maltratar o outro, em ser mesquinhos, hipócritas, falsos! Para onde quer que olhemos só vimos corrupção, trapaça, "chico-espertismo".
Desculpem-me mas NÃO GOSTO! Sinceramente tenho fortes dúvidas se, caso fosse necessário, ainda saberíamos fazer um "25 de Abril". E os Descobrimentos? Ainda teríamos aquela garra para dar "novos mundos ao mundo"?
Como dizia Pessoa: «é ver Portugal a entristecer»...

sábado, março 10, 2007

PAREM!

Nem acreditei quando vi! A data da última postagem feita neste blog era de 31 de Janeiro... que vergonha. Poderia tentar arranjar inúmeras justificações ou até escudar-me no imenso trabalho da escola... Mas não é isso que interessa e o que me trouxe aqui foi outro assunto, a meu ver, bem mais interessante.
Uma série de acontecimentos - o estudo da guerra colonial na disciplina de História, o filme recentemente estreado nos cinemas "Diamante de Sangue", o filme "Lord of War" - levaram-me a reflectir seriamente (talvez pela primeira vez) sobre a guerra em África.
Esta é, para mim, uma das faces mais marcantes e incompreensíveis (se é que alguma vez se pode compreender algo na guerra) dos confrontos bélicos.
Os povos africanos nascem, vivem e morrem na pobreza; sem um sentido de unidade e nacionalidade que os ligue. E são os chamados movimentos de libertação que tentam alterar esta realidade, lutando pela independência.
Contudo, as palavras do meu livro de História vão ao centro da questão: «Frequentemente, estes movimentos têm dificuldade em promover a coesão e a participação das populações, divididas por uma multiplicidade de etnias que os interesses do colonialismo não respeitaram. Com o fim de criarem um sentimento de identidade nacional e de fazerem reviver o orgulho perdido, os líderes nacionalistas promovem a revalorização das raízes ancestrais do seu povo, a sua cultura comum...». Tudo isto parece muito belo e virtuoso mas o problema é as deturpações que estes ideais sofreram na realidade.
Comecemos pelo plano de luta: na maioria das vezes estes movimentos optam pela via das armas para verem cumpridos os seus objectivos, dando início a intermináveis e sangrentos confrontos. Mas ainda agora começámos a enumerar... Outra coisa que "não me entra na cabeça" é o facto de muitos destes movimentos enveredarem por autenticas chacinas (desculpem, mas não têm outro nome) de aldeias, vilas, povos, somente porque não pertencem à sua tribo! Acusam os países ocidentais de etnocêntricos e isto é o quê senão etnocentrismo puro! Que legitimidade têm eles para, em nome de uma suposta coesão e tradição ancestral, tirar a vida a crianças, mulheres, idosos e homens, que o único "mal" que fizeram foi nascerem num local diferente dos que têm as armas...
E agora sim, o que realmente me revolta: os "senhores do dinheiro" financiarem estes movimentos, não porque acreditem nas suas convicções, mas sim porque estas guerrilhas e instabilidades governativas são óptimas para a sua exploração de petróleo, ouro e diamantes... Sinceramente entristece-me que consigam dormir descansados, sabendo que o "fornecimento" enviado vai matar bebés, deixar crianças orfãs, separar famílias e deixar outros tantos seres humanos sem um braço, perna ou outro qualquer parte do corpo... Desculpem-me mas COMO PODEM TER A CONSCIÊNCIA LIMPA???? Não compreendo, não aceito, não entendo...

Quem somos nós afinal? Como conseguimos viver indiferentes nos nossos jactos privados, limusinas, ao mesmo tempo que num país não tão longínquo mães gritam desesperadas segurando os filhos mutilados nos braços?

Por favor, somos TODOS seres humanos! Acabem com isto! Mostrem que somos mais do que simples animais com a capacidade se saber utilizar telemóveis...

Aconselho-vos a ver os filmes "Shooting Dogs", "Diamante de Sangue" e "Lord of War". Vejam-nos e depois digam-me se conseguem permanecer calados...

quarta-feira, janeiro 31, 2007

Tudo por um pastel...

Sentei-me no silêncio da sala, fechei os olhos por um pouco... Desde ontem que aquela entrada no tal blog não me saía da cabeça: seria a realidade mesmo assim? A vida seria tão cruel que um pobre mendigo, após uma semana inteira a juntar dinheiro (uns míseros - dizemos "nós" - 0,80€) para poder dar um conforto à alma e ao corpo e comprar um simples pastel de Belém com direito ao "pack" completo de canela e açúcar, veria o sonho tão próximo de se realizar, desfazer-se em fracções de segundo por um safanão que lhe deitou o pastel ao chão? Seria a vida tão injusta que, mesmo estando o mendigo disposto a apanhar do chão o seu doce (havia já passado por coisas piores), um descuidado pé esborracharia certeiramente aquele creme amarelo ainda quente...
Não, não podia ser! Era o autor do texto que estava a ser cruel (afinal era uma história inventada, apesar de todos os pormenores realistas).
Porquê? Porque não haveria aquele homem de ter o seu breve momento de reconforto? Quantas pessoas só encontram felicidade e conforto com a realização de necessidades vazias, fúteis, e aquele pobre homem só pedia um pequeno doce - que cabe tão bem na palma de uma mão - para esquecer as dores do estômago (que tantas vezes havia passado fome) e da mente.
Comentei a minha indignação. Responderam-me: «Tu não estás habituada a esta realidade, pois não? Não sabes como são os vagabundos de Lisboa? Eu visualizei claramente a cena descrita por ele, enquanto lia!»
Mais perguntas invadiram a minha já tão confusa cabeça: Estaria eu envolta numa redoma, longe desta realidade, longe da verdadeira realidade?! Seria a Lisboa que eu tanto admiro, assim mesmo? Cheia da pobres pedintes, fitando com os olhos brilhantes - por vezes molhados em lágrimas - as montras gulosas e apetecíveis das pastelarias? Pior! Seria a minha magnética Lisboa, a minha sociedade, o mundo de que faço parte, um local onde os que têm muito podem realizar os seus mais fúteis caprichos e aqueles "pobres diabos" (porquê chamá-los de "diabos"?) que só desejam algo tão pequeno vêm o seu "paliativo" esmagado?
Custa-me tanto a admitir que a verdade seja esta, fere-me como se fosse eu mesma aquele mendigo vendo o "meu" pastel desfeito no chão brilhante acabado de lavar e os bolsos vazios de dinheiro para poder comprar outro...
Mas talvez eu também seja um desses superficiais, egoístas, fúteis, que perante uma mão estendida viram a cara e, até!, murmuram entre dentes um resmungo. Afinal que fiz eu para mudar isto? Escrevi um post?! Não vai de certeza devolver o doce ao mendigo ou dar-lhe mais um cobertor nesta noite fria...
Uma lágrima amargurada aparece. Quem me dera que fosse diferente... Quem me dera que ao menos por uma vez os mendigos tivessem o seu pastel...

sexta-feira, janeiro 26, 2007

Standing for...

Passado tanto tempo sem dar notícias no blog, voltei para escrever sobre um assunto que há algum tempo me tem andado no pensamento. Acho o tema interessante, mas não sei ( ainda!) como o desenvolver, vamos deixar a "pena correr" e ver no que dá...
Ando por aqui às voltas, às voltas e ainda não disse qual é o tema mistério... Pois bem, é a Organização Nações Unidas!
Surpreendidos?! Talvez seja melhor eu explicar o "porquê".
Uma das coisas que sempre me fascinou foi a capacidade humanitária dos seres humanos, a sua luta (muitas vezes constante) pela defesa dos direitos humanos. Toda a nossa História é povoada de episódios sobre a defesa dos direitos e a luta das sociedades por condições de vida dignas. Assumindo várias formas, a luta pelos direitos é algo permanente: seja na luta pela independência de um país, seja no combate pelo direito ao voto das mulheres, seja pelo direito das crianças ao acesso à educação, seja o que for.
Não sei qual é a vossa opinião, mas eu vejo isto como algo valioso no ser humano, a sua capacidade/coragem para lutar por aquilo que considera ser justo.
É neste contexto, e após duas guerras mundiais, que cerca de 51 países decidiram unir-se para criar um Organização que assegurasse a paz e a ordem mundial e que promovesse relações de solidariedade entre nações "pequenas e grandes". Nesta organização todos têm os mesmos direitos e estão em pé de igual (não há mais ou menos poderosos, todos têm o direito a ser ouvidos).
Independentemente do que outros possam pensar, eu acredito nesta Organização (e num futuro profissional sentir-me-ia bastante realizada se aí pudesse trabalhar) e é nela que reside a minha esperança de que o mundo avançará para ser um lugar melhor e mais justo. Não sou tão inocente ao ponto de achar que basta existir um organização como esta ou até que as Nações Unidas são completamente livres de desigualdade, mas o fundamento está lá, a esperança, a vontade reside nesta instituição.
Somos uma ínfima gota deste planeta azul, mas o nosso pouco esforço, pode ajudar a mudar ou a melhorar a vida de alguém que realmente necessite. Eu acredito que sou uma simples abelhinha nesta profusão de vida, mas também acredito que posso dar o meu contributo (por mais pequeno que seja) para tornar a colmeia um sitio com mais "mel"...
Por Favor! Não deixem de acreditar no lado humanitário da sociedade! Lutem por aquilo em que acreditam!

terça-feira, janeiro 02, 2007

É a Hora!

Um coincidir de situações levaram a que eu escrevesse este post.
Estive a ler a crónica de Daniel Sampaio, «Carta-aberta à geração dos meus filhos», publicada inicialmente a 22 de Outubro de 2006 no jornal A Capital, sobre a necessidade de um segundo 25 de Abril, de uma revolução sem-sangue que tire o país deste descambar sem fim à vista; quis o destino também que, a propósito do meu anterior post, relembrasse o último poema da Mensagem de Fernando Pessoa: Nevoeiro. A ser aplicado ao actual estado do nosso Portugal, estes versos adequam-se na perfeição.

«Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer -
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugalm hoje és nevoeiro...

É a Hora!»

As palavras tornam-se vazias após lermos este poema. Como pode Pessoa quase um século antes dos nossos dias escrever palavras tão acertadas, tão verdadeiras, tão mortalmente reais!?
Por mais que custe a admitir, a realidade é esta: Portugal está a entristecer, é «brilho sem luz», «incerto», «derradeiro» e «disperso». Nós não passamos de nevoeiro, sombras que apenas passam, levantando poeira (leia-se, atirando poeira para os olhos de quem quer, finjindo que nos preocupamos, que queremos mudar, que somos lutadores e estamos descontentes). Podemos reinvindicar, protestar, apontar o dedo aos governos, às autoridades, à comunicação social, fazer greves (tão em voga ultimamente), mas a verdade é que, lá no fundo, o problema está em nós, portugueses, em nós Nação. Chegámos ao extremo de não «saber que coisa se quer», «que alma se tem»; já nem sabemos «o que é mal nem o que é bem».
Devo dizer que chego a ficar assustada ao ver que nos estamos a afundar, ao aperceber-me que pessoas como o Daniel Sampaio têm razão ao escrever que «falharemos no construir de uma sociedade melhor para os nossos filhos». Temos de mudar e acredito que o conseguiremos: tudo se baseia em força de vontade - querer é poder! Só espero que quando nos resolvermos a agir ainda possamos mudar o rumo das coisas sem sofrimento, violência e "sangue".
Como Pessoa tanto gostava de dizer: É a hora! (só falta o D. Sebastião a guiar-nos...)

Ano Novo, Vida Nova

"Ano Novo, Vida Nova" é uma expressão muito utilizada nesta época: termina um ano, inicia-se outro e sentimos uma vontade tremenda de alterar certas coisas que temos feito até então. A meu ver isto não tem nada de mal, muito pelo contrário até pode ser bem positivo (podemos sempre usar o começar de um novo ano para ir para a frente com os nossos projectos!
Para não fugir à regra, decidi também começar o ano de 2007 com o lema "ano novo, vida nova" - apesar de considerar que já se tornou um bocadinho "corriqueiro", mas o que conta é a intenção... - e deitar mãos à obra. Após ler o meu blog e os de alguns amigos, fiz uma inspecção ao una goccia di acqua e decidi que é altura de mudar um bocadinho o teor destas "gotinhas cibernéticas". Tenho de dar mais vivacidade ao blog, comentar temas actuais e mais interessantes, ser mais observadora e critica nas minhas reflecções e, sobretudo, quando penso ter encontrado um bom tema, escrever sobre ele e não "deixar andar"...
Pois bem, proponho-me então (ao jeito de resoluções de ano novo) a dar mais atenção ao blog, procurar temas mais interessantes e ter coragem/força de vontade para pensar sobre o mundo que nos rodeia, em vez de enfiar a cabeça na areia, bem ao jeito português (já lá Pessoa dizia, "É a Hora!").
Tenho em mente alguns assuntos que poderiam dar posts, digamos, talvez interessantes. Se vocês que lêem este blog apreciarem e acharem que o devo fazer, façam o favor de me "dar nas orelhas"caso eu não crie um post para cada um deles (por este meio vos invisto de total plenitude de poderes para me chamarem à atenção para os descuidos bloguistas =P).
Não tendo mais assunto para escrever - já pareço os Rio Grande -, despeço-me com os desejos de um ano de 2007 completamente fantástico!