terça-feira, janeiro 02, 2007

É a Hora!

Um coincidir de situações levaram a que eu escrevesse este post.
Estive a ler a crónica de Daniel Sampaio, «Carta-aberta à geração dos meus filhos», publicada inicialmente a 22 de Outubro de 2006 no jornal A Capital, sobre a necessidade de um segundo 25 de Abril, de uma revolução sem-sangue que tire o país deste descambar sem fim à vista; quis o destino também que, a propósito do meu anterior post, relembrasse o último poema da Mensagem de Fernando Pessoa: Nevoeiro. A ser aplicado ao actual estado do nosso Portugal, estes versos adequam-se na perfeição.

«Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer -
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugalm hoje és nevoeiro...

É a Hora!»

As palavras tornam-se vazias após lermos este poema. Como pode Pessoa quase um século antes dos nossos dias escrever palavras tão acertadas, tão verdadeiras, tão mortalmente reais!?
Por mais que custe a admitir, a realidade é esta: Portugal está a entristecer, é «brilho sem luz», «incerto», «derradeiro» e «disperso». Nós não passamos de nevoeiro, sombras que apenas passam, levantando poeira (leia-se, atirando poeira para os olhos de quem quer, finjindo que nos preocupamos, que queremos mudar, que somos lutadores e estamos descontentes). Podemos reinvindicar, protestar, apontar o dedo aos governos, às autoridades, à comunicação social, fazer greves (tão em voga ultimamente), mas a verdade é que, lá no fundo, o problema está em nós, portugueses, em nós Nação. Chegámos ao extremo de não «saber que coisa se quer», «que alma se tem»; já nem sabemos «o que é mal nem o que é bem».
Devo dizer que chego a ficar assustada ao ver que nos estamos a afundar, ao aperceber-me que pessoas como o Daniel Sampaio têm razão ao escrever que «falharemos no construir de uma sociedade melhor para os nossos filhos». Temos de mudar e acredito que o conseguiremos: tudo se baseia em força de vontade - querer é poder! Só espero que quando nos resolvermos a agir ainda possamos mudar o rumo das coisas sem sofrimento, violência e "sangue".
Como Pessoa tanto gostava de dizer: É a hora! (só falta o D. Sebastião a guiar-nos...)