sábado, outubro 27, 2007

Somos pessoas apenas por sermos pessoas

Quando começava a perder a esperança de que haveria alguém que pensasse que o mundo seria um lugar bem melhor se houvesse menos hipocrisia, eis que encontrei «uma luz ao fundo do túnel»!
Fui desencantá-lo no lugar onde o zé-povinho diz que se formam os hipócritas e mentirosos: a Faculdade de Direito (uma pequena salvaguarda: não que eu acredite que assim seja, mas enfim...). Eduardo Vera-Cruz é o seu nome; para além de outras funções, é o regente da cadeira de Direito Romano.
Cedo fiquei a gostar deste professor pelo seu diálogo simples e pela empatia que cria com os alunos. Mas a minha admiração cresceu, quando nos mostrou aquilo que era para ele o Direito.
«É fundamental ter a capacidade de dizer não às injustiças». Naquele momento, qualquer coisa dentro de mim se inflamou. Aquele professor acredita que é necessário parar com as desigualdades, pois a vida, como hoje a concebemos, não passa de um mero conviver com as injustiças. Sim, aquele professor catedrático, presidente do Conselho Directivo, personalidade influente no meio jurídico. Sim, também aquele homem acreditava nisso - e não somente uma simples caloira como eu!
Segundo as suas palavras (desculpe professor por ter tomado notícia do que disse...), o curso de Direito dá potencialidades para tudo; nós depois é que escolhemos o caminho a seguir. E isto não se aplica somente a um curso universitário, mas a toda a nossa vida: são postas à nossa disposição os instrumentos, cada um de nós em seguida opta sobre o que quer fazer com eles.
O bem e o mal somos nós que, na nossa liberdade, o praticamos, não é algo inerente nas coisas.
Nunca antes tinha feito referência tão explícita a uma pessoa no meu blog, mas alguém que diga «nós somos pessoas com dignidade e direitos, apenas por existirmos» de certeza que merece tal referência...

sábado, outubro 20, 2007

Raios te partam Darwin!

É importante começar por frisar que não tenho nada contra o grande naturalista que foi Charles Darwin, nem contra a sua mais celebre obra «A Origem das Espécies pela Selecção Natural». Pode-se dizer que é a interpretação que as pessoas fazem de selecção natural que me causa formigueiro.

Sobrevivência do mais forte!

Ora aqui está o cerne da questão! Generalizou-se, na nossa sociedade, que para se sobreviver temos de ser mais fortes que o nosso parceiro. No entanto, este ser "mais forte" vem conotado com o célebre passar por cima de quem se atravessar no nosso caminho sem olhar a meios (nem a fins...).

A lei da selva, vulgo lei da sociedade, manda que para sobreviver sejamos hipócritas, que chutemos para canto os sentimentos dos outros e que coloquemos o nosso proveito em cima de um pedestal luminoso, bem polido. «Magoei o não-sei-quantos? Problema dele!», «Achas que fui sacaninha? É a vidinha, meu amigo!».

Não pensem que estou aqui a defender que sejamos uns totós, que passemos a actuar tendo apenas por objectivo os interesses alheios. Não! Não sou ingénua a esse ponto. Mas haverá mesmo necessidade de, para vingar na vida, sermos uns verdadeiros canalhas?

Não seria possível encontrar um meio termo entre o nosso próprio proveito e o bem-estar do outro? Uma pitada mais de sensibilidade: seria pedir muito?
Por vezes, penso que se Darwin não tivesse escrito que os mais fortes é que sobrevivem, não teríamos chegado a este ponto.