quarta-feira, novembro 22, 2006

Já não cabemos lá em casa...

Depois de um fim-de-semana prolongado, onde estive longe da tecnologia urbana - os únicos contactos que tive foram um pouco de televisão à noite e umas olhadelas esparsas para o telemóvel -, vim de baterias renovadas. Porém, este fim-de-semana não foi tão maravilhoso como a primeira vista tudo indicava... e é para em poucas linhas deixar uma espécie de promessa que, hoje (que me apetecia prolongar por mais algum tempo a minha distância dos meios electrónicos), liguei o computador e vim para aqui escrever!
Provavelmente todos nós temos na nossa consciência as mágoas pelas quais os velhinhos passam quando os filhos já têm a sua vida organizada e (tal como um sofá de almofadas gastas, quando se compra um novo) deixam de ter espaço na vida dos filhos. Não vim aqui para falar daqueles casos em que os filhos, porque por e simplesmente não estão para se chatear, nem ter trabalho, "enviam" os pais para lares de idosos. Muitas vezes nem se dignam a um telefonema. Não, não quero falar sobre eles porque são casos desprezíveis, só espero que um dia não passem pelo mesmo...
A promessa que eu quero deixar é sobre uma outra face, a meu ver, muito mais dolorosa para os filhos: quando os pais não querem sair das suas casas, mas já não reúnem as capacidades totais para tomarem conta deles próprios e nem deixam que os filhos tomem.
É doloroso relembrar quando eles apanhavam transportes públicos (que todos sabemos não serem muito confortáveis) para vir visitar os filhos e os netos e, agora, nem mesmo para passar duas horinhas ao almoço com os netos e filhos, querem sair de casa. Dói ver que as linhas do pensamento já não são tão lúcidas como eram... Custa vê-los com medo de tudo e de todos, pensando que querem sempre fazer-lhes mal... Dói (talvez mais a nós, filhos e netos) descobrir que eles caíram, enquanto estavam sozinhos, e que não foram capazes de nos contar... Custa saber que talvez uma consulta médica ajudaria a tirar as dores do corpo (e da alma, também) de que constantemente se queixam, mas eles recusam-se a ir, dando a eterna desculpa "os médicos não sabem nada"... Mas, acima de tudo, corrói-nos interiormente saber que se tentarmos entrar um pouco mais no seu espaço (por mais nobres e bondosas que sejam as nossas intenções), só vamos contribuir para deixa-los mais nervosos e assustados...
A promessa, que tinha em mente quando iniciei esta postagem, baseava-se mais ou menos no seguinte: Prometo-te mãezinha e paizinho que tomarei sempre conta de vocês e farei o meu melhor para que tenham uma velhice feliz... Contudo, fiquei assustada perante a hipótese de os meus pais se fecharem no seu próprio casulo e não me deixarem dar-lhes a mão. Por isso, decidi modificar a minha promessa...
«Pai, Mãe, juro-vos que farei aquilo que estiver ao meu alcance e, se for necessário, farei o impossível também, para que tenham uma velhice feliz e descansada. Por mais que me doa saber que estou a deixar-vos nervosos e desnorteados, vou engolir as lágrimas, porque não permitirei que se isolem e deteriorem de dia para dia. JURO-VOS que nunca terão necessidade de dizer "Já não cabemos lá em casa..." »